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Mônica Lewinsky, a paciente zero do cyberbullying


“Fui a paciente número zero a perder de forma quase instantânea a reputação pessoal em escala global.”



Assim descreve Monica Lewinsky a experiência devastadora que viveu nos anos 90, durante o escândalo envolvendo o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Na época, a internet estava em ascensão, e o escândalo rapidamente ganhou proporções globais. Lewinsky foi submetida a um intenso escrutínio público, sendo alvo de piadas, memes e comentários cruéis em todo o mundo. Ela reflete sobre o impacto desse episódio, dizendo: “A atenção e o julgamento que eu, pessoalmente, recebi — e não a história —, não tinha precedentes”. Quando isso ocorreu, há 17 anos, “não tinha nome. Agora chamamos de cyberbullying” . Esse assédio constante teve um profundo impacto em sua saúde mental, levando-a a anos de sofrimento, isolamento social e pensamentos suicidas. Lewinsky tornou-se, assim, um símbolo das consequências devastadoras que o bullying na internet pode ter sobre uma pessoa.


O bullying, em termos gerais, refere-se a comportamentos agressivos e repetitivos destinados a intimidar, humilhar ou prejudicar alguém, física ou emocionalmente. Quando essa prática acontece no ambiente virtual, através de redes sociais, e-mails, mensagens de texto e outras plataformas digitais, é chamado de cyberbullying. Diferentemente do bullying tradicional, o cyberbullying pode acontecer 24 horas por dia, é amplamente acessível e, muitas vezes, é perpetrado de forma anônima, o que pode intensificar o sofrimento da vítima. Assim como no caso de Monica Lewinsky, as consequências do cyberbullying são profundas e duradouras, afetando a autoestima, a saúde mental e o bem-estar geral das vítimas.


Estudos recentes mostram que o cyberbullying é um problema global e crescente. De acordo com uma pesquisa publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 10% dos adolescentes em todo o mundo já sofreram algum tipo de cyberbullying. No Brasil, um estudo realizado pela UNICEF em 2022 revelou que aproximadamente 17% dos jovens entre 11 e 18 anos relataram ter sido vítimas de cyberbullying. Esses números são alarmantes, considerando que o bullying online está fortemente associado a depressão, ansiedade, automutilação e, em casos mais graves, ao suicídio.


Para combater o cyberbullying, é essencial que tanto os usuários quanto os pais adotem medidas preventivas. Usuários da internet devem ser incentivados a praticar a empatia e o respeito em suas interações online. Além disso, é fundamental que saibam como identificar e denunciar comportamentos abusivos nas plataformas digitais. Os pais, por sua vez, têm um papel crucial na proteção de seus filhos. Eles devem estar atentos a sinais de que seus filhos podem estar sendo vítimas de cyberbullying, como mudanças bruscas de comportamento, evasão escolar, isolamento social, irritabilidade, depressão, ou o uso excessivo ou evitado de dispositivos digitais. Esses sinais podem indicar que a criança ou adolescente está enfrentando dificuldades e precisa de ajuda.


A legislação também tem um papel importante na prevenção e punição do cyberbullying. Em 2024, o Brasil deu um passo significativo nesse sentido com a assinatura de uma lei que criminaliza explicitamente o cyberbullying. A nova legislação estabelece penalidades para aqueles que praticam o bullying virtual, incluindo multas e, em casos mais graves, penas de prisão. Essa medida visa não apenas punir os agressores, mas também desestimular a prática do cyberbullying, criando um ambiente online mais seguro para todos.


A história de Monica Lewinsky serve como um lembrete poderoso dos danos que o bullying na internet pode causar. Combater o cyberbullying exige um esforço conjunto de indivíduos, famílias, educadores, plataformas digitais e governos. Somente através da conscientização, educação e aplicação rigorosa da lei podemos criar um ambiente online mais seguro e saudável para todos.



Referências bibliográficas:

  • ALMEIDA, J. Lei de combate ao cyberbullying no Brasil: Um avanço na proteção digital. Revista de Direito e Tecnologia, Brasília, v. 12, n. 3, p. 45-60, jun. 2024.

  • LEWINSKY, M. The Price of Shame. TED Talks, 2015. Disponível em: https://www.ted.com/talks/monica_lewinsky_the_price_of_shame?subtitle=en&lng=pt-br&geo=pt-br.

  • MARTINS, S. Cyberbullying e suas consequências: Uma revisão da literatura. Psicologia em Revista, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 75-88, jan. 2023.

  • OJEDA, P. "A atenção e o julgamento que eu, pessoalmente, recebi — e não a história —, não tinha precedentes". El País Brasil, 8 ago. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/08/08/tecnologia/1565254902_316396.html.

  • SILVA, R. A.; SANTOS, M. C. A. O papel dos pais na prevenção do cyberbullying. Revista Brasileira de Psicopedagogia, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, p. 112-125, abr. 2023.

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