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Quem cuida do cuidador?

Foto do escritor: Ethos PsiquiatriaEthos Psiquiatria

A saúde mental de quem cuida do seu familiar com condições/transtornos mentais, Alzheimer e demência



Cuidar de alguém com um transtorno mental é uma tarefa nobre e vital, mas também profundamente desafiadora. Quais os impactos na vida dos cuidadores e em sua saúde mental?


Para falar sobre esse tema, convidamos o psicólogo Bruno Camargo, especialista em Gerontologia e um dos maiores nomes nos cuidados em saúde mental de idosos e pessoas de Alzheimer/outras demências.


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No Brasil, estima-se que há pelo menos 2,1 milhões de pessoas com demência, sendo a doença de Alzheimer o principal tipo. Podemos em 2050 ter o triplo de casos. Em termos de números, estima-se que a cada três segundos um novo caso da doença de Alzheimer é diagnosticado ao redor do mundo.


Dados revelam que um idoso na fase moderada e grave da doença de Alzheimer exige cerca de 120 a 300 horas mensais de atenção e cuidados. Para eleito de comparação, é como se o cuidador trabalhasse quase em dois empregos de 40 horas semanais. Fora é claro toda a sua carga de trabalho regular que não envolve o cuidado com o idoso, preocupações e gastos financeiros e cuidados de outros familiares como filhos e parceiros.


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Quais são os desafios enfrentados pelos cuidadores?


Cuidar de um familiar com Alzheimer apresenta uma série de desafios significativos que impactam profundamente a vida dos cuidadores. Essas dificuldades se manifestam em diversas áreas, incluindo aspectos físicos, sociais e emocionais.


  • Desafios físicos: Os cuidadores enfrentam esgotamento físico devido à constante assistência nas atividades diárias do paciente, como alimentação, higiene pessoal e mobilidade. Além disso, a supervisão contínua e o manuseio de equipamentos especializados contribuem para uma carga física intensa.


  • Desafios sociais: O isolamento social é comum entre os cuidadores, que frequentemente se veem afastados de suas redes sociais e apoio comunitário. A solidão pode agravar-se pela redução do suporte emocional e prático de amigos e familiares, enquanto o estigma social relacionado ao Alzheimer pode gerar sentimentos de exclusão e incompreensão.


  • Desafios emocionais: Lidar com o Alzheimer de um ente querido pode desencadear um processo doloroso de luto contínuo pela perda gradual da pessoa que um dia foi. A ansiedade e a incerteza sobre o futuro do paciente são constantes, podendo levar à depressão devido ao estresse emocional prolongado.


O esgotamento físico, social e emocional podem levar o cuidador a ECDA, ou Estresse do Cuidador na Doença de Alzheimer. Este estado de estresse se manifesta quando as demandas diárias e o peso emocional do cuidado excedem a capacidade de resiliência do cuidador, impactando significativamente sua qualidade de vida.

O ECDA frequentemente precede o desenvolvimento de transtornos mentais comuns entre os cuidadores, como: Depressão, ansiedade, burnout, transtorno de estresse pós-traumático e o uso abuso de substâncias como remédios, álcool ou outras drogas.


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Como posso prevenir e tratar o estresse e a sobrecarga do cuidado?


  • Aceitação do diagnóstico: Reconhecer e aceitar o diagnóstico de Alzheimer do familiar é o primeiro passo para ajustar expectativas e desenvolver estratégias de manejo eficazes.


  • Educação contínua: Aprender sobre a doença de Alzheimer, suas fases, sintomas e técnicas de cuidado específicas pode ajudar o cuidador a se sentir mais preparado e confiante.


  • Autocuidado: Reserve tempo regularmente para cuidar de si mesmo. Isso inclui alimentação saudável, exercícios físicos, descanso adequado e atividades que proporcionem prazer e relaxamento.


  • Identificação de crenças disfuncionais: Avalie e desafie quaisquer crenças disfuncionais relacionadas ao cuidado, como sentir-se culpado por dedicar tempo ao autocuidado. Aprender a delegar responsabilidades e aceitar ajuda pode reduzir a carga emocional.


  • Estabelecimento de limites: Defina limites claros em relação ao que você pode e não pode fazer como cuidador. Aprenda a dizer não quando necessário e priorize suas próprias necessidades.


  • Busca por apoio: Participe de grupos de apoio para cuidadores, procure um psicólogo ou psiquiatra para auxiliar você nesse momento.



Aprender a cultivar a resiliência através do Kintsugi oferece um valioso exemplo oriental que pode guiar os cuidadores diante da incerteza e das dificuldades geradas pela Doença de Alzheimer. Esta arte japonesa valoriza as rachaduras em cerâmicas quebradas como parte integrante de sua história e beleza, ensinando a aceitar as mudanças que a doença traz, adaptando com compaixão e sabedoria.


Da mesma forma que o psiquiatra Viktor Frankl nos lembra:


"Quando não somos mais capazes de mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos."

Esta reflexão destaca a importância da aceitação das circunstâncias que não podemos controlar, como a progressão da doença de Alzheimer em nossos idosos. Frankl nos incentiva a concentrar nossa energia no crescimento pessoal, na adaptação às novas realidades do cuidado e na busca de significado em meio às adversidades.


Assim, ao aplicar os princípios do Kintsugi e as lições de Viktor Frankl, você cuidador pode encontrar não apenas resiliência, mas também uma fonte de força interior e propósito, transformando desafios em oportunidades de crescimento pessoal e conexão emocional mais profunda.


"[...] Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Portanto abrange mais que um momento de atenção, de zelo e desvelo. Representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilidade com o outro. [...]” - Boff, 2011


Fontes:


FETER, N., LEITE, J. S. Is Brazil ready for the expected increase in dementia prevalence? Cadernos de Saúde Pública [on-line]. 2021, v. 37, n. 6.


ALZHEIMER´S DISEASE INTERNATIONAL (ADI). Global estimates of informal care. London, july 2018.


ALZHEIMER´S ASSOCIATION, 2021 Alzheimer´s Disease Facts and Figures. Alzheimer Dement 2021; 17(3).


SALLIM, A. B.; SAYAMPANATHAN, A. A.; CUTTILAN, A.; HO, R. Prevalence of Metal Health Disorders Among Caregivers of Patients With Alzheimer Disease. J Am med Dir Assoc. 2015 dec; 16(12);1034-41.

Responsável técnico: Dr. Gustavo Bonini Castellana

Médico Psiquiatra Forense - CRM 117.124 | RQE 38.983

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